Kindred: Laços de Sangue, de Octávia E. Butler

A ficção científica de Octávia E. Butler, lançada em 1979, traz um tema tão contemporâneo e atual que, apesar de se passar nos Estados Unidos, poderia facilmente ocorrer aqui no Brasil.

Ler esse livro é um choque. Butler descreve com detalhes a situação dos escravizados no Sul dos Estados Unidos, tanto nas colheitas quanto dentro das casas, expondo a brutalidade do sistema escravista. É impossível não se indignar com a falta de humanidade dos brancos, com sua violência institucionalizada e atitudes cheias de maldades.

Do que se trata Kindred?

A trama gira em torno da vida de Dana, uma mulher negra que vive na Califórnia na década de 1970.  Ela acaba de se mudar para um apartamento com o namorado Kevin quando, no dia do seu aniversário de 26 anos, ela é transportada a uma fazenda escravista em Maryland, no Século XIX, para salvar um garoto chamado Rufus.

Rufus vive se metendo em encrenca e, toda vez, Dana é puxada ao passado para livrá-lo da morte. No rio, no fogo, na tempestade, ela sempre volta. O tempo entre as épocas funciona de maneira peculiar: enquanto Dana passa meses na fazenda, apenas algumas horas transcorreram na Califórnia.

Com o passar do tempo, Dana vivencia o dia a dia da fazenda, testemunhando a extrema violência contra os escravizados e a dinâmica de poder entre brancos e negros. Ela faz amizades, vivencia situações trágicas e, sempre quando fica em perigo, volta para Califórnia de 1970. O mais curioso é que enquanto o tempo passa na fazenda e as pessoas vão envelhecendo, Dana se mantém jovem, com a mesma aparência, justamente pelo tempo agir diferente entre as épocas.

Pontos-chave da narrativa

No decorrer da trama, ela conhece Alice, uma mulher escravizada por quem Rufus se apaixona. Mais do que amor, ele deseja possuí-la, controlá-la. E claro, Alice não quer, ela o odeia, pois ele é dono de toda aquela terra e de todos aqueles escravizados. Criado como um menino mimado, ele não está acostumado a ouvir “não”. E esse também é um dos desafios de Dana, fazer com que ele respeite Alice e não a maltrate.

Um ponto interessante é a discussão sobre a “boa escrava”. Alice inúmeras vezes chama Dana de “preta branca”, pois Dana sabe ler, escrever e fala diferente dos outros escravizados. Essa habilidade lhe garante alguns “privilégios” com os brancos, mantendo-a próxima deles. No entanto, é justamente essa inteligência que a torna perigosa aos olhos dos senhores da fazenda – apesar de não admitirem.

Dana passa grande parte da narrativa tentando entender a sua ligação com Rufus e o motivo das suas viagens no tempo. Mas essa é uma resposta que você precisará descobrir por conta própria. Se você ainda não leu, recomendo muito essa leitura.

Vale a pena a leitura!

Kindred traz profundas reflexões sobre identidade, violência, relações de poder, em uma trama envolvente que viaja no tempo e nos mostra como a resistência é fundamental para a conquista de direitos e dignidade.

“Eu era a pior guardiã possível que ele podia ter, uma negra para cuidar dele em uma sociedade que via os negros como sub-humanos, uma mulher para cuidar dele em uma sociedade que via as mulheres como eternas incapazes”.

É uma obra única, uma combinação entre ficção científica, romance histórico e reflexão social. Não à toa, o livro ultrapassou meio milhão de exemplares vendidos em todo o mundo e continua sendo uma leitura essencial até os dias de hoje.

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Eduardo Chinellato

Professor e escritor

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